As obras de Israel Macedo

Maçãs com expressões faciais, cactos com olhos, painéis com borracha de pneus. Espectador das relações e conflitos humanos, o artista plástico Israel Macedo transfere para telas, desenhos e esculturas suas impressões sobre o que vivenciou e seu olhar da realidade por meio de obras com simbolismos e inquietações.

ISRAEL MACEDO

Apesar de ter trabalhado com tecnologia da informação por um tempo, desde criança já sentia atração pelas artes. Por incentivo de seus pais, fez cursos de desenhos, pinturas e esculturas. Quando mudou para a capital paulista (Macedo é de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo), passou a frequentar leilões e exposições, tendo a certeza de que queria viver de arte. Suas obras já ganharam exibições em galerias nacionais e internacionais, incluindo o Museu do Louvre, em Paris.

O artista também coleciona prêmios, como o Special Prix de la Société Nationale Dês Beaux-Arts du Louvre, e a 8ª Bienal Internacional de Arte de Roma com a escultura “O Bipolar”. Recentemente, sua escultura “Turkish Eyes” foi escolhida pela cantora americana Lady Gaga, quando visitou o Brasil.
O Decor Adorabile conversou com o artista. Confira a entrevista na íntegra.

Seus trabalhos têm toques ora lúdicos, ora contemporâneos. Você se considera um artista surrealista?
Acredito que, durante algum tempo, fui influenciado pelo surrealismo e pelo hiper-realismo. Mas neste momento, certamente minha produção é contemporânea. O que considero importante, mais do que rotular, é que me considero um espectador das relações e conflitos humanos. Transfiro sempre para minhas obras a simplicidade da vida: a partir de vestígios do passado, investigando inquietações do presente. São criações livres de estilos, repletas de simbolismos, que priorizam elementos figurativos, com variedade de materiais, cores e formas.

Quem são seus artistas e movimentos artísticos preferidos?
Nas artes plásticas, admiro muito Salvador Dali pela criatividade enlouquecedora. Ainda que o meu trabalho não seja inspirado no movimento surrealista, acredito que tenho influencias de Dali, pois foram as primeiras obras de um artista mundialmente conhecido que vi pessoalmente. A versatilidade de Gerhard Richter me inspira muito, assim como outros artistas mais contemporâneos que tenho estudado e estão me influenciando atualmente, como Adriana Varejão, Damien Hirst, Marcel Duchamp e Vik Muniz.

ISRAEL MACEDO

Ainda existem muitos artistas no Brasil com duas profissões, pois não conseguem sobreviver de arte. Você acha que esse cenário está mudando?
O mercado de arte é bastante concorrido, favorecendo poucos artistas. Mas é engraçado você analisar o mercado com uma visão mais crítica, você vê que existem muitos artistas realmente incríveis e com trabalhos excelentes, e vê que também existem artistas não tão significativos, artisticamente falando, também favorecidos. Existe um grande dilema sobre o que é arte e o que não é, e isso muitas vezes se diferencia do que a maioria das pessoas pensa que é. A cultura brasileira ainda admira o belo, e nem sempre arte tem de ser bela. Muitas vezes, aquilo que a maioria acha que é arte, não passa de uma ilustração, mas é vendido como arte, quando deveria ser arte aplicada. Mas esta é uma discussão bem complexa, e só entrei nela para dizer que o mercado hoje ainda tem espaço para tudo e para todos. Acredito que os artistas são ricos em diversas habilidades e conhecimentos, mas são carentes de outras, como marketing, planejamento e estratégias. É aí que entram as galerias, os assessores, os marchands, etc. E tudo isso depende de investimento, ou desenvolvimento dessas habilidades. Acredito que esta é a parte que realmente torna a arte insustentável para o artista, o faz desistir ou não conseguir viver dela. Se você não tem como investir, você precisa de alguém que invista em você.
Não acredito que o cenário mude para facilitar isso, o que vejo é um mercado cada vez mais acirrado e de muito mais responsabilidades.

Fale sobre as inspirações e os conceitos de suas obras.
Na série Maçãs, as esculturas são biográficas. Muitas delas representam as influências e as lembranças que tive com minha família durante a infância. Um exemplo é a obra “É só uma lembrancinha”. Fui criado em uma família humilde e quando era pequeno, minha avó cada vez que me dava um presente, dizia: “É só uma lembrancinha”. Agora que cresci, entendo que mais do que o presente físico, o valor sentimental é maior.
Os “Cactos” transmitem mensagens de persistência e sobrevivência. É uma evolução com características mais minimalistas em minhas obras.
A série Híbridos é ainda autobiográfica, mas um momento de transição do trabalho. Foi quando comecei a pensar nas maçãs como parte de outro objeto tema. Representa os meus questionamentos sobre meu trabalho. Mostram o artista e as obras como um só.
Já em meus Painéis, quero mostrar a importância da sustentabilidade, e que é possível transformar algo que poderia estar no lixo em o que quisermos. A versatilidade do trabalho em expressão é o que mais me encanta. O lixo se transforma e passa a fazer parte do nosso dia a dia de uma maneira agradável.

Israel Macedo

As esculturas estão sendo introduzidas cada vez mais na decoração de interiores. Você já recebeu propostas para desenvolver trabalhos em parceria com arquitetos e decoradores? 
Meu acervo está sempre disponível, aprecio saber o ambiente do qual a obra fará parte, mas nunca interfiro na escolha das peças, nem o local exato onde vão ficar, já que são eles (os arquitetos) quem conhece seus clientes e a história de vida de cada um. Acredito que as minhas obras possam compor todo e qualquer ambiente, desde que elas façam sentido ou emocionem quem vai usufruir desse espaço. Minha preocupação está focada no sentimento que elas possam permear. É diferente de um objeto decorativo ou estritamente funcional.

Recentemente, fui convidado pela Mac Móveis para criar obras que dialogassem com uma nova coleção de chaises. São peças inspiradas em mulheres de conquistas históricas: a imperatriz Haruko (Japão, século 19) e as rainhas Vitória (Inglaterra, século 19) e Boudica (cultura celta, século 1). Nas telas em serigrafia que desenvolvi, elas são representadas por símbolos culturais como leque, coroa e mandala. Telas e mobiliário ficam em exposição no Hotel Tivoli Mofarrej a partir de 16 de agosto, durante uma semana. O evento faz parte do calendário oficial do São Paulo Design Weekend 2013.

Telas - Israel Macedo

Onde as pessoas podem comprar suas obras?
Em meu atelier, na Vila Nova Conceição; na loja-conceito Marché Art de Vie; e nas galerias de arte André (da Gabriel Monteiro da Silva) e Marcelo Neves (Mateus Grou).
Nos EUA, sou representado pela Chic Revolution in Art e sou membro da galeria Ward Nasse, de Nova York. Na França, tenho obras na Galerie des Maitres Contemporains.

Está trabalhando em um novo projeto? Conte as novidades.
Estou me dedicando a uma série nova, composta por pinturas tridimensionais que tem como base a borracha de pneu reciclado.

Fotos: Divulgação

Israel Macedo
Rua Domingues Fernandes, 740, Loja 30 – São Paulo
(11) 3926 6003
www.israelmacedo.com

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